Pergunta — “Morreu, acabou. Não existe nada depois da morte” — Quantas vezes já ouvi esta frase! Muitos não a dizem, mas pensam assim, e conduzem a vida dessa maneira. E suas decisões exprimem esse pensamento. Um octogenário recentemente falecido declarou que não queria ser enterrado, mas cremado, e que suas cinzas fossem espalhadas no clube que freqüentava. Ficou claro para seus familiares que a razão era essa: com a morte tudo terminava, e nada mais havia a fazer senão a dispersão das suas cinzas. Na cabeça de muitas pessoas esvoaça essa dúvida: que provas há da existência de uma vida futura? Nunca ninguém voltou para contar…
Resposta — Se tudo termina com a dispersão das cinzas nos canteiros de um clube, se tudo termina na dissolução do ser humano no nada, é forçoso reconhecer que a vida humana não tem sentido. E seria pura fantasia aquela apetência do Ser Absoluto, que Santo Agostinho coloca no fundo do coração humano: “Fizestes-nos para Vós, Senhor, e nosso coração permanece inquieto enquanto não repousa em Vós”.
Que provas há de que existe algo para além da morte?
Começaremos por dar a reposta para os que têm fé. Em seguida nos dirigiremos aos incréus, pois o missivista evidentemente quer uma resposta para este gênero de gente. Insistimos, de antemão, no que temos várias vezes repetido: devemos ter fé e dar adesão intelectual à Palavra de Cristo, de acordo com Santo Tomás de Aquino.
“Eu sou a ressurreição e a vida”
Para os que têm fé, basta lembrar que a ressurreição dos mortos e a vida eterna são objeto dos dois últimos artigos do Credo: creio “na ressurreição da carne; na vida eterna. Amém”.
São dois pontos claríssimos da pregação, e mesmo do agir de Nosso Senhor Jesus Cristo, como se vê no episódio da ressurreição de Lázaro, narrado no Evangelho de São João (11, 1-53): tendo Lázaro adoecido, suas irmãs Marta e Maria apressaram-se em avisar o Divino Mestre. Este, porém, deixou-se ficar mais dois dias no lugar em que estava, sabendo bem o que ia acontecer e o que iria fazer. Assim, quando chegou a Betânia, fazia quatro dias que Lázaro tinha falecido. Marta acorreu ao seu encontro e disse-lhe:
“Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas também sei agora que tudo que pedires a Deus, Deus te concederá.
“Respondeu-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.
“Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia.
“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Crês isto?
“Ela disse-lhe: Sim, eu creio que tu és o Cristo, Filho de Deus vivo, que vieste a este mundo” (vv. 21-27).
Em seguida repete-se a cena com a chegada de Maria, avisada por Marta. Jesus se comove, chora, dirige-se ao sepulcro e diz:
“Tirai a pedra.
“Disse-lhe Marta, irmã do defunto: Senhor, ele já cheira mal, porque já está aí há quatro dias.
“Disse-lhe Jesus: Não te disse eu que, se tu creres, verás a glória de Deus?
“Tiraram, pois, a pedra; e Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse: Pai, dou-te graças porque me tens ouvido. Eu bem sabia que me ouves sempre, mas falei assim por causa do povo que está em volta de mim, para que creiam que tu me enviaste.
“Tendo dito estas palavras, bradou em alta voz: Lázaro, vem para fora!
“E imediatamente saiu o que estivera morto […]. Então, muitos dos judeus que tinham ido visitar Maria e Marta, e que tinham presenciado o que Jesus fizera, creram nele” (vv. 39-45).
Segundo todos os intérpretes da Sagrada Escritura, a ressurreição de Lázaro — um morto de quatro dias! — era uma prova que Jesus queria dar de que Deus tem o poder de ressuscitar todos os homens no último dia.
A ressurreição dos mortos e a vida eterna são, pois, dois pontos perfeitamente estabelecidos da doutrina católica, e historicamente arquicomprovados.
Que sentido tem a vida presente?
Porém, nestes tempos de ateísmo e neopaganismo teórico e prático, convém apresentar provas também para aqueles que fecharam seus corações à palavra divina. E as perguntas que se põem naturalmente, para um espírito sensato, são estas:
— Que sentido tem a vida presente se, com a morte, o ser humano se dissolve no nada?
— Que sentido tem falar em aspectos morais de nossos atos se, por praticarmos o bem não seremos recompensados, e se fizermos o mal não seremos punidos?
É forçoso que a vida tenha sentido
No universo há uma ordem admirabilíssima. O mundo físico é tão ordenado, que os cientistas descobriram que ele é regido por leis requintadamente matemáticas. E a tal ponto que milhares de cientistas do mundo todo buscam há um século, afanosamente, reduzir todas as forças da natureza a uma só expressão matemática.
Ora, se há uma ordem, tudo no universo tem o seu posto, sua função, sua explicação, e sobretudo finalidade. Só a vida humana, que é o elemento mais alto sobre o universo, não teria sentido?
Esse sentimento é tão profundo na humanidade, que muitos buscam explicações em doutrinas fantasiosas. No começo — dizem — havia um ser único, que vivia na tranqüilidade, na harmonia interna e na mais perfeita felicidade. Não se sabe como nem por quê, produziu-se no interior desse ser uma cisão, que provocou uma explosão, originando-se daí a multiplicidade dos seres. Mas misteriosas forças cósmicas procuram restabelecer a unidade primitiva, o que acontecerá quando todos os seres se reintegrarem nesse “deus” primitivo, dissolvendo-se nele.
Aqui está — segundo esse pensamento — o que se passa com o homem quando morre: ele não se dissolve no nada, mas reintegra-se nesse ser único que reabsorve em si todos os seres. É o que constitui o fundo das doutrinas gnósticas e panteístas (tudo é deus).
Doutrinas, como se vê, fantasiosas, para não dizer monstruosas, mas que mostram como o homem tem necessidade de buscar uma explicação insofismável para o sentido da vida. Esse sentido só nos é dado pela idéia de um Deus criador — verdade que está inteiramente de acordo com a razão, ao contrário dessas fantasias.
É forçoso que a justiça seja feita
Por fim, a questão da justiça.
É evidente que a justiça nesta Terra é tremendamente falha; freqüentemente triunfam os maus, e os bons não são reconhecidos.
O mundo todo tem sido sacudido ultimamente por crimes tão hediondos, que a justiça humana não dá conta na tarefa de punir. E mesmo que punisse os criminosos, que por sua vez tornam-se até ídolos, nada reintegraria nos seus direitos as vítimas imoladas.
Se não há uma Justiça superior, que castigue na devida proporção o crime cometido e restabeleça as vítimas na integridade do seu ser, nada tem sentido nesta vida.
É uma prova de que a existência de Deus é necessária.
E esse Deus, infinitamente misericordioso e justo, é também infinitamente poderoso para ressuscitar os mortos no último dia e dar-lhes um destino eterno, que será a sua justíssima recompensa.
Portanto, nada termina com a morte, mas tudo recomeça com uma vida eternamente feliz para os bons, e eternamente infeliz para os maus.
Perspectivas tremendas, que nos devem fazer encarar a vida presente com profundíssima seriedade. Não fechemos os olhos para o que se passará depois do umbral da morte!
Se temos dificuldade em olhar de frente essa realidade, e tirar dela todas as conseqüências, peçamos o auxílio da Santíssima Virgem, que Ela nos tornará indiscutivelmente amena e esperançosa essa perspectiva. Te Deum laudamus!
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